Numa audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o advogado Leandro Scalabrin, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Passo Fundo, denunciou a existência de uma conspiração entre o Poder Judiciário e o Estado Maior da Brigada Militar para dissolver o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Scalabrin divulgou um documento sigiloso do Ministério Público Estadual que propõe uma série de ações articuladas com a polícia e o Ministério Público Federal para desmobilizar o MST. Trata-se de uma conspiração que teve início no ano de 2006, com um dossiê formulado pelo comandante, coronel Waldir João Reis Cerutti. O coronel afirma que o MST tem relação com o PCC, de São Paulo, e com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Este relatório serviu de embasamento para que promotores e juízes encaminhassem pedidos de busca e apreensão em acampamentos e até ordens de prisão e de reintegração de posse e outras ações policiais contra o MST. Porém, quem conhece de fato o MST, ao ler as declarações deste tal coronel Cerutti, não acredita nas grosseiras mentiras de seu dossiê, na sua leviana afirmação de que o MST é criminoso.
Querem forçar a sociedade a acreditar que o MST é uma organização criminosa. Mas, afinal, qual é o crime do MST? Tirar os pobres da miséria humana, da miséria política, social e econômica, do abandono e do anonimato e ajuda-los a compreender que são cidadãos que têm direitos. Organizar os pobres do campo, despertar uma nova consciência e a esperança de que uma vida melhor e mais humana é possível através da Reforma Agrária. Abrir caminhos para que os pobres das periferias urbanas possam se livrar das drogas, do crime, da violência e da exclusão, devolvendo-lhes a liberdade de sonhar e lutar. Mobilizar as famílias assentadas para que possam ter forças de lutar por escola, moradia, posto de saúde, estradas, água, transportes e outros direitos. Organizar cooperativas e associações para viabilizar a vida das famílias assentadas, para que não abandonem a terra, mas permanecem no campo produzindo alimento. É isto que faz o MST. E, por acaso isto é crime? Então, é por estas ações que condenam o Movimento Sem Terra?
O MST liberta os pobres da escravidão, abre-lhes os olhos para enxergarem o crime dos poderosos. Talvez seja por isso que querem condenar o movimento. O crime do MST é o mesmo de Jesus Cristo, que também foi levado aos tribunais para ser condenado a morte e ninguém sabia qual era mesmo o seu crime – Ele só havia feito o bem. Jesus também denunciou o crime dos poderosos de seu tempo e anunciou a Boa Nova aos pobres. Não tenho a pretensão de comparar o MST a Jesus de Nazaré, mas compreendo que o movimento tem sido um verdadeiro instrumento de construção do Reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo. Promover a justiça e a paz, preservar a dignidade humana e a integridade da natureza, são atitudes admiradas, mas não significa que quem agir desta maneira esteja livre de perseguição. Muito pelo contrário. A história da humanidade nos mostra que, infelizmente, as pessoas e organizações que procuram fazer o bem, geralmente são perseguidas, porque o bem de todos desfavorece a bonança de alguns.
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