domingo, 4 de outubro de 2009

O modo franciscano de fazer Ecologia

No Dia de São Francisco, reflitamos sobre sua atitude ecológica, que muito nos inspira na luta em defesa da vida.

Percebe-se que nos últimos tempos a sociedade, por várias razões, vem tendo uma maior preocupação com as questões ambientais, com a promoção da justiça, dos direitos humanos e da paz. E nós franciscanos, com toda certeza, podemos e devemos dar a nossa contribuição numa escala progressiva, ou seja, aumentar e qualificar ainda mais a nossa presença e atuação em defesa da vida. Faz parte do nosso carisma, temos como herança de São Francisco de Assis: o cuidado para com a vida, o respeito pelas criaturas e a fé na Trindade criadora. Pode-se dizer que é por intuição franciscana que a Igreja vem se aproximando cada vez mais da Ecologia e introduzindo-a na sua atividade pastoral.

A contribuição franciscana à ecologia despertou a sociedade, não só para a ecologia em si, mas para a sua transversalidade. A ecologia, no modo franciscano de ser, é uma ciência e uma causa universal que se relaciona com outras causas da humanidade como, por exemplo, os direitos humanos, a justiça social e a paz. A ecologia, com espírito franciscano, como a ciência e a arte das relações, deve estar presente em todas as áreas do conhecimento e da atividade humana. Este é o modo franciscano de fazer ecologia. A ecologia que relaciona o meio ambiente com o ser humano e todas as dimensões da vida humana e da sociedade. Ecologia tem a ver com a questão da paz, da saúde, da economia, da política. E tem tudo a ver com a religião. Hoje, pela gravidade da crise ecológica, ninguém pode se omitir em colaborar com a grande luta de todos que é a ecologia. Se ninguém deve ficar de fora da soma de esforços em defesa da vida no planeta, muito menos a religião, que deveria ser protagonista na luta ecológica. Porque além da preocupação com a crise, a religião tem a ver com ecologia pela fé no Criador e na Criação de Deus.

Podemos ter São Francisco de Assis como um verdadeiro exemplo de ser humano que soube respeitar e valorizar todas as criaturas. A justiça, a paz e a ecologia foram bandeiras erguidas por Francisco de Assis. Ele soube ser justo e promover a justiça, soube ser fraterno com os outros e se relacionar com as pessoas tendo a paz como um pressuposto. Foi amigo e irmão da natureza, como demonstra no Cântico das Criaturas, onde todos os seres são tratados como irmãos e irmãs. Para São Francisco as criaturas não tinham apenas um valor utilitário, mas um valor simbólico e sacramental, que lhes é inerente. No carisma franciscano está bem presente a dimensão do cuidado ético para que as gerações futuras não pereçam com a escassez causada pelo consumismo e pela degradação dos recursos naturais.

O franciscanismo defende um desenvolvimento sustentável alternativo que vai muito além do econômico, que procura promover uma qualidade de vida para todas as pessoas, sem explorar o meio ambiente, buscando de forma responsável os recursos de sustentação da vida humana. Um desenvolvimento que seja economicamente viável, político-socialmente justo e ecologicamente sustentável, levando em conta que o mundo não é só nosso, mas de todas as criaturas que hoje coabitam a Terra e das que virão no futuro. Mas, com certeza, não podemos ficar apenas no discurso, é preciso muita luta. Porque não são apenas as boas intenções que movem o mundo. As boas intenções valem mesmo quando elas se tornam presenças voluntárias e efetivas que somam força nas boas ações. Ter boa intenção é um bom começo, é o primeiro passo para ajudar a mudar o mundo. Mas quando uma boa intenção não fizer o passo seguinte, que é a prática, a boa ação, então, ela acaba indo para o começo do fim, no precipício. A ecologia nos exige o desafio de pensar e olhar de forma ampla, global e a longo prazo, mas requer um agir local e cotidiano.

freipilato@gmail.com

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