quarta-feira, 31 de março de 2010

A Páscoa nos faz pensar


Desde criança, quando reflito as questões da minha fé, venho me perguntando por que mesmo mataram Jesus? Porque o mataram se Ele é o Cristo, Filho de Deus, o Messias que veio nos trazer a salvação? Mas andando nas procissões com o povo que vive, reza e canta sua fé, guardei na memória o refrão de um hino da Semana Santa, que diz assim: “Eles queriam um grande rei que fosse forte dominador e por isso não creram Nele e mataram o Salvador”.

A maioria do povo contemporâneo e conterrâneo de Jesus, talvez induzida por suas autoridades e por medo do império romano, queria mesmo um grande rei com pleno poder para derrubar do trono seus inimigos e governar soberanamente.

Sob o jugo dos romanos, o povo de Israel da época de Jesus, sonhava com um rei próprio que pudesse conduzir a nação na liberdade e com soberania. Mas, certamente alguns do povo e talvez a maioria das autoridades quisesse mesmo um rei dominador que também pudesse dominar o resto do mundo. Não pensaram que, aderindo ao projeto de Jesus de Nazaré, eles poderiam se libertar do poder imperialista romano e construir um caminho de justiça e liberdade para todos os povos e nações. Não acolheram o Salvador da Humanidade porque simplesmente queriam um rei que os governasse.

Judas Iscariotes, o traidor que se sentiu traído, estava crente que Jesus de Nazaré iria fazer aquilo que ele tanto queria, que era tomar o poder das mãos dos romanos. Judas seguiu a Jesus pensando que Ele iria fazer a sua vontade, realizar o seu projeto, mas foi bem diferente, pois Jesus não queria simplesmente ser o imperador de Israel. Ele queria a libertação do povo de Israel e de todos os povos. E quando Judas não via mais em Jesus uma alternativa para seu plano político, ele tratou de entregá-lo às autoridades que tanto queriam a morte de Jesus. Aprisionado em seu projeto pessoal e incapaz de perceber a dinâmica do Reino de Deus, Judas Iscariotes e muitos outros do seu povo perderam a oportunidade de aderir ao plano divino que, de acordo com o anúncio de Jesus, representava, não apenas a libertação de Israel, mas de todos os povos.

Mesmo no horizonte da ressurreição, a morte é sempre uma dor. E por isso, não creio que Deus Pai quisesse a morte de seu Filho, Jesus de Nazaré, mesmo estando certo de que Ele iria ressuscitar. Mas, o que causou a morte de Cristo foi a incapacidade do mundo de então compreender e acolher a graça de Deus. E o Cristo Filho de Deus morreu na cruz porque foi além dos interesses humanos. Ele se manteve fiel ao projeto de libertação dos pobres e de todos os povos, de toda a humanidade. Jesus contrariou interesses de poder, e nisso Ele foi até as últimas consequências, ao ponto de ser condenado a morte de cruz. Analisando os fatos relatados nos Evangelhos, percebemos que Jesus desafiou todos os lados de interesse, mostrando que a lógica do Reino de Deus é diferente de muitas lógicas do mundo. Deus quer a paz, a justiça, o perdão, o amor e a fraternidade. De tudo o que Jesus propõe, nos parece que a maior novidade rejeitada por uma parte do seu povo naquela época e por muita gente de hoje, é o amor aos inimigos.

Jesus contrariou as suas autoridades numa dimensão religiosa, mas isso também tinha um desdobramento político, ético e social. Ele não queria uma religião de aparências e de exclusão, mas de simplicidade e compromisso com a vida, com a justiça e a verdade e que levasse a uma convivência de paz, de acolhimento e respeito às diferenças. Jesus Cristo anunciou o Reino de Deus. Talvez se tivesse anunciado um reino qualquer, inventado por ele mesmo, que fosse diferente do plano de Deus, poderia ter sido aceito pela maioria dos seus conterrâneos. Jesus poderia se tornar o imperador de Israel, mas os pobres de seu povo e de todo o mundo continuariam sem esperança, a humanidade continuaria sem conhecer a salvação, sem ver o testemunho da bondade e do pleno e sublime amor de Deus. Jesus rejeitou o poder e contrariou interesses de poder para manifestar um outro poder, o que serve e liberta o ser humano.

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