Fonte: pnuma.org.br |
Hoje faz 40 anos que, em 1972, em Estocolmo, na Suécia, no seu primeiro encontro mundial sobre meio ambiente, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o dia 5 de junho como o “Dia Mundial do Meio Ambiente”, o Dia da Ecologia. Naquele momento também foi criado o UNEP (PNUMA) Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. E se confirmou que o meio ambiente deve estar no centro das preocupações da humanidade, e que o futuro da Terra depende do desenvolvimento de valores e princípios que garantem o equilíbrio ecológico.
Comecei a acompanhar e celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente, quando criança, na escola, mas desde antes de frequentar a sala de aula, meus pais, em casa e na pequena roça, me educavam para a ecologia. Onde fui assimilando na mente e no coração duas importantes dimensões da ecologia: a ecologia do encantamento, de se apaixonar e se maravilhar pelas dádivas da natureza e a ecologia do cuidado e da solidariedade, de cuidar solidariamente da natureza, de não permitir o sofrimento de nenhum ser ou forma de vida. Na base destas duas ecologias tem uma espiritualidade ecológica, um sentimento de que tudo é sagrado e em todas as formas da natureza está a presença de Deus Criador. Quando criança percebia alguns descuidos, abandonos e maus tratos com a vida, mas não sabia que era tão agressiva a ação do ser humano contra a Terra em todas as partes do mundo. E foram as celebrações do Dia e da Semana do Meio Ambiente que me despertaram para a ecologia da indignação e para a militância socioambiental.
Para poder se encantar com a natureza e realmente ser solidário e cuidar da vida que é dom de Deus, é preciso muita luta para que a Terra seja respeitada na sua integridade. Aprendi com São Francisco de Assis que a Terra é nossa mãe, quando nutre e sustenta cada ser que nela vive, mas ela também é nossa irmã, que requer nosso cuidado fraterno. Nós humanos e a Terra, com tudo o que nasce e vive nela, somos uma única família, onde temos o direito de viver plenamente, mas é preciso respeitar todos os seres e preservar a continuidade da vida. E para que haja respeito com a integridade da natureza e harmonia de vida na Terra, sempre é preciso questionar nossas próprias ações e a forma de como nos relacionamos com o meio ambiente. E quando percebemos sinais de desrespeito com a vida, é preciso denunciar, ajudar a conscientizar e conclamar a cidadania humana para preservar a Terra. Com certeza, o Dia e a Semana Mundial do Meio Ambiente tem esta característica. É um momento para que a sociedade humana pense, questione e tome novas atitudes com relação ao meio ambiente. E foi nesta perspectiva que criei o blog Olhar Ecológico na Semana do Meio Ambiente, em 5 de junho de 2008.
Neste 4º aniversário do blog Olhar Ecológico, quero poder discutir sobre os quarenta anos do Dia Mundial do Meio Ambiente, quando o mundo já está cheio de iniciativas e projetos que priorizam a salvaguarda da natureza. Porém, vivemos um momento crítico da humanidade, em que os problemas ambientais se agravam e emerge a necessidade de dialogo, de somar forças, de partilhar ideias e práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que é premente mobilizar e denunciar. Por isso, quero reescrever aqui meus questionamentos e indagações de quando iniciei o blog Olhar Ecológico.
Agora, após 40 anos em que a ONU instituiu o Dia Mundial do Meio Ambiente, através deste modesto blog de apenas 4 anos de caminhada, me sinto na liberdade de questionar a mim mesmo e a sociedade onde vivo se, de fato, o meio ambiente está no centro de nossas preocupações. E sei que a resposta não está em discursos, mas nas ações cotidianas das pessoas, dos empreendimentos das empresas e das políticas dos governos. Será que, a partir de 1972, o meio ambiente ganhou centralidade em nossas decisões, em nossos pensamentos e ações? É preciso que nos questionemos sobre isto.
Percebemos o quanto a questão ecológica ganhou espaço nos meios de comunicação, nas escolas, nas conversas cotidianas, nos movimentos sociais, partidos de várias tendências, nas pastorais, nas universidades e em vários lugares e espaços da vida social. O meio ambiente ganhou o discurso da nossa geração, virou tema propício para nossas conversas. Agora, porém, cabe-nos uma autocrítica. Neste período em que progredimos tanto na maneira de ver a questão ambiental, evoluímos no debate e alargamos os espaços de ocupação das temáticas ambientais, precisamos interrogar nossas ações e avaliar os resultados das nossas decisões sobre o meio ambiente.
Com tanto debate que a ecologia nos proporcionou, será que realmente mudamos a maneira de pensar e ver a vida? Mudamos nossas arcaicas concepções sobre a natureza, sobre as pessoas e as mais diversas formas de vida? Estamos preocupados. Sim! Mas, estamos decididos a mudar o padrão de consumo, por exemplo? Aprendemos a usar os recursos naturais de forma sustentável? Ainda mantemos nossa ganância, o luxo, a opção pelas facilidades a todo custo, sem nos perguntarmos sobre a capacidade sustentável do planeta e sobre as necessidades das outras pessoas e de outros povos?
Já no primeiro encontro da ONU sobre meio ambiente, acima referido, se confirmou que o futuro da Terra depende do desenvolvimento de valores e princípios que garantem o equilíbrio ecológico. E, hoje, onde estão esses valores e princípios? Se eles existem, então, devem estar movendo nossas ações. A ecologia nos abre os horizontes, nos faz ver a realidade socioambiental, nos interpela para a ação, mas questiona e ilumina nosso agir. Não basta simplesmente agir, é preciso mudar, transformar de dentro para fora.
Como diz o teólogo Leonardo Boff, é preciso mudar nosso paradigma. Ou seja, precisamos mudar a matriz do nosso modelo de sociedade, das nossas concepções, valores, pensamentos, conceitos. Uma mudança de vida para preservar a Terra e tudo o que vive nela, requer uma mudança profunda no ser humano. Em relação a muitas coisas, até podemos fazer opções e tomar atitudes sustentadas por campanhas publicitárias. Mas, as nossas ações ecológicas precisam ser sustentáveis, precisam ser amparadas por valores e princípios fundamentais e profundos. Nosso agir ecológico deve ser consistente, não pode ser descartável e precisa consistir e evoluir de geração em geração.
No aniversário de 40 anos do Dia Mundial do Meio Ambiente, temos algo importante a fazer. Como humanidade, precisamos olhar nossa trajetória e, pensando no futuro, nos perguntar sobre quais os valores e princípios que estamos assumindo e incorporando na nossa vida, e que podem garantir o equilíbrio ecológico da Terra. Precisamos conferir se o meio ambiente, de fato, ganhou a necessária centralidade. A questão é esta. No centro de nossas decisões e de nosso agir está a integridade da vida ou a mesquinhez do lucro, do luxo e do consumismo?
Precisamos pensar bem e agir bem. Que o Dia Mundial do Meio Ambiente, o Dia da Ecologia, nos faça pensar e agir. E também nos ajude a mudar o modo de pensar e agir. Pensar sem agir é anular o pensamento e agir sem pensar é a pura prepotência de achar que se está fazendo tudo certo. Precisamos, não só colocar em prática as nossas teorias, mas teorizar, questionar e refletir sobre nossas práticas. E, se preciso for, temos que ter a coragem de mudar para preservar a vida.
Feliz Dia do Meio Ambiente.
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