Caro internauta, ao passar por este blog, hoje, no Dia dos Pais, vais encontrar algumas modestas poesias que escrevi para o meu pai, enquanto ele estava vivo e depois de sua morte. A poesia “O cigarro e o chimarrão” é uma colaboração de meu irmão, Paulo Pereira. Eu sei que esta homenagem em forma de poesia é algo muito simples, mas nada do que não for simples poderá dizer o amor que sinto pelo mau pai.
Mozart Lourenço Pereira
*11/11/1939 +15/10/2006
MEU PAI
Meu pai, um homem pobre e livre
Humilde e sábio, o meu velho pai
Mostrou-me o por aonde a vida vai
Indicou-me os caminhos da liberdade
E pediu que seguisse sempre sem medo
E se preciso, guardando segredos
Mas nunca escondendo a verdade
Hoje, olho contemploso o seu semblante
Fico lembrando de outrora
Meu pai, um gaúcho guapo e vibrante
E agora, meio cansado, às vezes desolado
Mas com fé, sereno, segue adiante
O seu passo lento indica meu destino
Desde menino, foi dele que aprendi
Que é devagar que se vai ao longe
Porque o longe é perto do bem querer
E é preciso seguir a vida livre e sem pressa
Cumprindo promessas e aprendendo a viver
Só peço a Deus
Que dê saúde ao meu velho pai
Pra que ele possa partilhar sabedoria
E partejar filosofias de liberdade
Acendendo luzes pra realidade
Indicando caminhos do novo dia.
(Frei Pilato Pereira, 2005)
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ONZE DE NOVEMBRO
Meu pai,
Hoje seria o seu aniversário
Como marca o calendário
O dia em que nasceu.
Mas, a vida, neste ano
Mudou-se de plano
A definitiva páscoa
Chegou e te levou.
A terra acolheu a semente
A gente não sabe, mas sente
No céu germinou o semblante
Que no mundo o sol iluminou.
Ficou a marca em nossas almas,
Calmas, sofrendo em prantos a dor
Uma confusa dor que leva
Para sempre leva um amor.
Em prece nos despedimos
E tu foste levado por nossas mãos
Mãos que queriam te segurar
Para que ficasse conosco
E nunca mais se ter que chorar.
Mas era preciso partir
E tua páscoa aconteceu.
Naquele instante
Num mundo de lágrimas
Uma ultima lágrima emudeceu.
E os olhares fitos viram descer
Ao chão, o teu corpo
De regresso ao cosmo
Ao ventre da terra.
Não é aqui que a vida encera
E vai de volta a casa do Pai
Agora vai e sempre nos verá
Terá-nos eternamente.
Viverás para sempre
E um dia nos receberá.
(Frei Pilato Pereira, 2006)
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O CIGARRO E O CHIMARRÃO
Numa mão o cigarro e na outra o chimarrão
É bonita a cuia com erva verde
Revivendo a nossa deslumbrante tradição
Mas é terrível o cigarro que está em sua outra mão
Cada vez mais vai destruindo seu pulmão
Esta imagem ficou guardada na minha lembrança
E me acompanha desde quando era criança
Mas, já não o vejo mais, nem mesmo com o cigarro
Pois foi este que o levou, o separou dos que lhe amavam
Agora procuro lembrar
As coisas boas que meu pai sempre nos ensinou
Com sua sabedoria, ternura e amor
Fumar? Claro que não
Pois eu sei a dor que um filho sente
Ao perder um pai que amou de coração
E na dor da saudade procuro me consolar
Porque acredito um dia vou lhe encontrar
Não mais com o cigarro na mão
Que lhe causou tanto mal
E sim tomando seu chimarrão tradicional.
(Paulo Pereira, 2007)
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TUDO É SAUDADE
Tudo é saudade neste Pampa sem fim
O mundo todo por onde andei
E de onde venho, um mundo inteiro
Eu tenho um mundo que grita dentro de mim
No coração que pede pra tomar um mate
Brincar com o cão que late a traz do galpão
Saudade é sonho que dorme com roupa de ilusão
Mas é a liberdade de voltar sem deixar de seguir
É ir se embora e de novo vir onde mora o coração
(Frei Pilato Pereira, 2008)
----------------------O BOM MESTRE
Entre um palheiro e outro
Ou algum trago, talvez
Ou um chimarrão
Que a mãe lhe fez
Assim, o pai seguia sua prosa
Como tento dizer neste verso
Ele não queria julgar
O que era errado ou certo
Mas no seu modo calmo de falar
O bom mestre que sabia ensinar
Começava e seguia falando
Com palavras simples e sábias
Ensinando-nos sobre a vida
O que aprendeu de seus pais
Dos livros que leu
E em suas idas e vindas
Era assim depois da tarde caída
Ao longo do anoitecer
Reunidos ao redor do fogão
Enquanto a lenha queimava
O pai partilhava o saber
Que provinha do seu coração
(Frei Pilato Pereira, 2007)
----------------------ADEUS PAI
Adeus Pai
Vou te levar
No coração comigo
Vou te lembrar na canção
Amigo, doce irmão
Em tua noite calma
O perfume da flor de tua Alma
Se eternizou e canta ao luar
E agora e sempre
Tua vida vai estar
Aqui e em todo lugar
(Frei Pilato Pereira, 2008)