A oficina sobre as raízes missioneiras nas periferias urbanas vai ocorrer no dia 27 de janeiro, às 18 horas, no Parque Eduardo Gomes, Galpão 1, bairro Fátima, em Canoas/RS – Brasil. O objetivo é despertar as raízes históricas nos índio-descendentes Guarani nas periferias urbanas como elemento de mobilização e organização.
O evento fundante do Povo Gaúcho não está na presença dos portugueses e espanhóis e sim na experiência cristã socialista, de vida comunitária e de autentico espírito republicano nas Missões Jesuíticas Guarani. No território que hoje se compreende o Estado do Rio Grande do Sul, haviam sete povos perfeitamente organizados numa exemplar vida coletiva, sendo um deles – São Miguel, a capital – na época equivalente ao município de São Paulo.
Um acordo entre as coroas de Espanha e Portugal, o chamado Tratado de Madrid, pretendia, de forma prepotente e autoritária, reordenar os povos e as demarcações de terra. Descontentes com o tal tratado e cientes de que isso representaria o declínio de sua sociedade, os Índios Guarani resistiram o quanto puderam. Entre eles havia o líder Sepé Tiarajú, hoje reconhecido como santo popular e oficialmente como herói riograndense e herói nacional. Sepé liderou seu povo na luta até último suspiro guarani, mas tombou em combate numa emboscada, juntamente com inúmeros outros combatentes.
Com a morte de Sepé, em 7 de fevereiro de 1756, há quase 254 anos, os Guarani que sobreviveram acabaram se espalhando e muitos passaram a conviver com outros pobres descentes portugueses e espanhóis e foi acontecendo o fenômeno da miscigenação. Por isso, hoje, muitas famílias tidas como descendência espanhola e/ou portuguesa, são na verdade também descendentes dos Guarani das Missões Jesuíticas dos Sete Povos. E estes são os pobres que sobreviveram às margens da sociedade gaúcha.
Sendo vítimas do latifúndio, os descendentes Guarani foram migrando para as periferias urbanas. No entanto, não deixou de correr nas veias o sangue indígena Guarani. E estas raízes históricas, chamadas “Raízes Missioneiras”, dos índio-descendentes Guarani, com certeza influenciaram na vida social, na organização comunitária, na participação popular e na resistência dos pobres nas periferias urbanas, como é o caso das ocupações na cidade de Canoas/RS. O que também se pode dizer de toda a região metropolitana de Porto Alegre, onde se desenvolveram muitos processos de organização e participação popular.
Hoje é de fundamental importância despertar as raízes históricas nos índio-descendentes Guarani que vivem nas periferias urbanas, como elemento de mobilização e organização. Já na década de 70, o Irmão Marista, Antônio Cechin teve esta intuição e promoveu a Romaria da Terra, que teve sua primeira edição justamente no lugar onde Sepé Tiarajú foi morto em combate, o município de São Gabriel. A Romaria da Terra surgiu como uma ferramenta mística para embalar o povo na luta. Aí vieram as ocupações de terra, as CEB’s, o MST, a CPT e toda uma caminhada de organização e luta embalada pela mística de Sepé Tiarajú e os Índios Guarani.
Não foi uma coisa imposta, mas um despertar de algo que já presente presente no sangue dos índio-descendentes Guarani, sobreviventes nas periferias. Estas raízes históricas não podem ser sufocadas. Elas devem ser resgatadas para garantir a vida e a dignidade humana. É importante também frisar a dimensão ecológica na cultura Guarani e indígena, de um modo geral. Mais do que recordar em momentos de debate e reflexão, é preciso despertar no cotidiano a herança guaranítica nas comunidades como elemento de mobilização e organização.
Em nível de organização dos movimentos sociais, Irmão Antônio Cechin foi um dos pioneiros no resgate das raízes missioneiras. Por isso, Irmão Antônio é um dos nossos convidados para refletir esta temática juntamente com o músico missioneiro, o Índio Guarani Pedro Ortaça e o teólogo Luiz Carlos Susin, do Fórum Mundial de Teologia da Libertação.
Às 18 horas, inicia a oficina e a partir das 20 horas, com a presença dos participantes do Fórum de Teologia da Libertação, acontecerá o lançamento do livro “Empoderamento popular, uma pedagogia da libertação”. Publicado pela editora ESTEF, com a colaboração do Instituto Cultural Padre Josimo, o livro traz uma coletânea de artigos, palestras, escritos de Irmão Cechin que refletem uma caminhada dos últimos 50 anos, demonstrando o empoderamento do povo que venho se organizando através de uma pedagogia libertadora.
O livro “Empoderamento popular, uma pedagogia da libertação” vem para coroar uma trilogia de publicações ocasionada pela celebração de oitenta anos de vida de Ir. Antônio Cechin.
Programação (27/01/2010):
-18:00 Horas: Oficina “As Raízes Missioneiras nas Periferias Urbanas”.
-20:00 Horas: Lançamento do livro.
Local: Parque Eduardo Gomes, Galpão 19. Bairro Fátima, Canoas/RS. O evento também terá diversas apresentações culturais, como mostra de fotos, vídeos, músicas com artistas locais e a participação especial de Pedro Ortaça.
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