A Organização das Nações Unidas (ONU) curvou-se ontem a uma crescente pressão para iniciar uma ampla reforma em seus processos de decisão com vistas a um acordo sobre mudanças climáticas.
A reportagem é de Fiona Harvey, Joshua Chaffin e Harvey Morris, do Financial Times, e publicada pelo jornal Valor, 22-12-2009.
Esta e outras informações sobre Copenhague estão no site do IHU - Unisinos (www.ihu.unisinos.br)
Um comentário:
Réquiem para Copenhague
Terão esses jovens privilegiados uma vaga idéia de quão genérica, imponderável e distante é a plataforma pela qual se mobilizam ferozmente? Saberão que fazem parte de uma encenação cujos antagonistas, estranhamente complementares, servem apenas para conferir estatuto oficioso aos tradicionais documentos inofensivos, com os mesmos compromissos vagos?
Não se trata de menosprezar um problema escancaradamente grave e ameaçador. Mas a intransigência unidimensional do discurso ambientalista, que vê interesses corporativos em qualquer questionamento, provoca uma reação contrária de ceticismo. Parece fácil demais assimilar esse fatalismo apocalíptico de causas difusas e responsabilidades generalizadas, tão adequado a tempos conservadores e cínicos. A era da ditadura da longevidade encontrou sua pregação messiânica de apelo coletivo.
Mesmo leigos, percebemos que há muitas lacunas técnicas nas previsões do aquecimento global. Os enormes custos sociais e econômicos envolvidos na sua prevenção (e não apenas para os países emergentes) são sistematicamente desprezados. Ninguém tampouco menciona o poderosíssimo lobby ávido pelos dividendos resultantes do mercado de carbono e de novas fontes energéticas. Ou Al Gore trabalha de graça?
A abrangência planetária do problema dissimula sua responsabilidade localizada em alguns poucos países industrializados, que dão bananas para o que pode acontecer a uma ilha no Pacífico. Acontece que são também as maiores potências geopolíticas deste mundinho doente, e é preciso um fabuloso otimismo para acreditar que, podendo sanar tantos absurdos cotidianos perpetrados contra a Humanidade, elas escolham justamente uma causa remota e onerosa para inaugurar sua solidariedade.
Talvez o cidadão de classe média sinta conforto espiritual em tomar banhos curtos, separar lixo nos recipientes do condomínio ou o que mais acredite (às vezes ilusoriamente) servir para amenizar danos ambientais. Mas os esforços de uma vida inteira são ridiculamente inúteis comparados com o malefício causado em algumas horas por aquela fábrica poluidora que ignoramos no caminho de casa.
É preciso estabelecer de uma vez por todas que as soluções relevantes passam exclusivamente por ações governamentais, ou seja, dependem de legitimidade popular. Isso significa, em contexto democrático, respaldo eleitoral. Já que não convém manchar o salvacionismo climático de veleidades autoritárias, seria interessante verificar se as pessoas realmente concordam em sacrificar prioridades urgentes em benefício de um futuro já bastante incerto, com ou sem calotas polares.
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