Assim como o Verão, o Inverno e o Outono, a Primavera sempre volta, sem nunca ter nos deixado. Como o Sol que surge no horizonte, se alastra e depois se põe e no dia seguinte, mesmo as escondidas, lá está ele novamente cumprindo seu ritual de nascer e morrer, sem nunca deixar de viver. Assim é a vida. As flores que agora são flores virão a ser frutos e os frutos alimentam outros seres e guardam suas sementes que morrem para gerar vida que floresce. E quanto mais nos detemos a observar e compreender os mistérios da natureza, mais nos envolvemos em mistérios que se revelam e velam verdades tantas. Existem paisagens belas que são reveladas pela luz do dia e outras, igualmente belas, ganham forma através da noite. E o que noite esconde, o dia desvela e o que o dia desfaz, a noite refaz.
Setembro está quase de partida, mas nos deixa, aqui no hemisfério Sul, de presente, a Primavera, a estação das flores e da unimultiplicidade das cores da vida. Bem-vinda a Primavera, ela que sempre vem prenunciada pelo majestoso canto do Sabiá, que anuncia o cio da terra.
Como disse Che Guevara: “podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a Primavera”. Pois, todos os anos ela vem desabrochar a vida, reflorescer os sonhos e acordar a esperança, embelezar e perfumar a convivência das pessoas e a natureza. A Primavera exibe as cores da vida. Ela expõe um espetáculo que não é somente seu, mas a sua missão é exibir a vida em forma de flores. Mas, para que existam flores na Primavera, é preciso o calor do Verão, a transição do Outono e o frio do Inverno. Tudo depende de tudo e tudo está interligado com tudo. O capricho da natureza, muitas vezes desconhecido durante as outras estações, resulta na beleza da Primavera. Quando nos encantamos com as flores desta estação, é bom reconhecer o quanto foi importante o clima regular das outras estações. Não haveria Primavera se não fosse o Inverno. Quando reclamávamos daqueles dias frios que só se saia de casa por extrema precisão, a natureza silenciosamente se servia daquele clima para nutrir a vida. E agora, com toda eloquência, a Primavera canta a poesia da vida.
A Primavera é mesmo fascinante. Sua missão é revelar a beleza da vida que, por vezes, passa despercebida. E quando a Primavera nos diz que a vida é linda e nós humanos compreendemos a sua poesia, a vida realmente se torna melhor. Também externamos as nossas cores. Cores de sentimentos, desejos, pensamentos, ideias, ideologias, crenças e filosofias. As cores que pintamos e vestimos e também as cores de bandeiras que erguemos. E quando essas bandeiras pregam paz, justiça e dignidade, elas movem o mundo porque expressam nossa humanidade. E as flores na Primavera expressam a beleza que o tempo todo está na essência da vida.
Pilato Pereira